A primeira coisa que percebo olhando para estes objetos é que a maioria é quadrado, o que sugere algo mais concreto e racional. Gostaria de ser mais ‘arredondada,’ flexivel, maleável. Por isso tento trazer um pouco do simbólico para minha vida, representado pela Iemanjá, pela carta de tarô, pelas almofadas de meditação, tudo isso para ver se eu amenizo um pouco toda essa racionalidade que, se não cuidar, não deixa espaço para um lado mais intuitivo e emocional. Ao mesmo tempo, esta racionalidade, esta lógica toda que crio para as coisas, é minha forma de ver sentido no mundo. Vivo muito essa dicotomia entre o racional e o emocional. Uma outra coisa que esses objetos mostram é um pouco do quanto valorizo minhas experiências, as histórias da minha vida. No final, a vida é feita disso, dessas pequenas histórias. Talvez tenha sido esse o critério que usei para escolher os objetos que trouxe da casa dos meus pais para cá.
— Patricia
Eu tenho uma relação com literatura muito forte e Guimarães Rosa, em especial, tem uma coisa que mexe comigo. Ele traz uma sabedoria sobre a vida tão forte, sobre a cultura popular, que me fascina. Uma vez fiz uma viagem para a cidade natal dele, passei o reveillon no Morro da Garça, onde se passa um de seus contos. Guimarães Rosa tem uma forma de perceber a vida muito bonita que, para mim, beira uma busca espiritual.
— Patricia
Esta carta minha mãe escreveu para mim logo depois que me mudei para cá. Foi um momento difícil porque, depois de toda a euforia inicial de montar a casa nova e receber os amigos, me bateu uma sensação de solidão muito forte. Lembro que uma vez liguei para ela chorando para falar que estava me sentindo sozinha e que ninguém estava ligando e ela tomou um susto, porque achava que tudo isso estava sendo um processo super legal para mim. Um dia ela apareceu aqui e me trouxe esse cartão. Ele representa essa generosidade e forma de demostrar carinho única que minha mãe tem. Não tem como falar de memória sem falar destas pequenas formas de carinho que sempre estiveram presentes na minha vida atravéz dela
— Patricia
Esta ‘árvore da felicidade’ tem um significado simbólico por si só. Minha mãe me deu quando mudei para cá. Ela ganhou uma da minha avó quando se casou. Hoje a árvore dela já tem mais de trinta anos. Gosto desta coisa geracional. Uma planta que minha avó deu para minha mãe e minha mãe deu para mim. Espero que a minha cresça, me acompanhe ao longo da vida e, um dia, que eu possa dar uma para minha filha. Esta árvore acaba sendo uma boa metáfora para a vida porque é delicada, tem seus altos e baixos, exige cuidado e atenção. Fora isso, ela também representa dualidade. Você tem que plantar o macho e a fêmea juntos, estes opostos que tentam conviver e crescer, mas que são totalmente diferentes. Olho para a planta como se fosse um reflexo real da minha vida. Vejo que está soltando galhos, mas precisa engrossar o tronco, melhorar a base, enfim, fico pirando nessas simbologias.
— Patricia
Este banco faz parte daquela penteadeira que está no quarto que herdei da minha avó. O estofado estava todo estragado e minha mãe bordou e restaurou ele para mim. Escolhi este objeto porque fala de uma memória de infância muito forte. Me lembra das viagens épicas que a gente fazia para fazenda dos meus avós no Mato Grosso. Hoje sou uma pessoa super urbana, desconectada desse universo mais interiorano. Este banquinho acaba me lembrando um pouco desse outro lado, mais bucólico e romântico.
— Patricia

Comment